Curitiba, PR / 2022
Ateliê 01 + Alessandro Yamada + Rafael Falkowski + Mobius
Menção honrosa no segundo aberto de arquitetura Weefor.

Corpos que respiram.

“O mundo mudou, e aquele mundo (de antes do coronavírus) não existe mais. A nossa vida vai mudar muito daqui para a frente, e alguém que tenta manter o status quo de 2019 é alguém que ainda não aceitou essa realidade” — Átila Iamarino, doutor em microbiologia pela Universidade de São Paulo, à BBC Brasil, em 28 de março de 2020.
Diante de um novo mundo que se avizinha – o pós pandêmico – é fundamental reconstruir a experiência da habitação coletiva sob outros paradigmas, que valorizem a dimensão humana na utilização dos espaços. É preciso transcender a experiência de moradia e fazer de um transitório apartamento-dormitório, ocupado entre as horas improdutivas de um dia, uma permanente casa-lar em construção, que potencialize e refaça o sentido de habitar como uma atividade para além de subsistir. E para humanizar a arquitetura, é necessário percebê-la como um corpo que respira — privilégio dos que restaram em uma sociedade ainda enlutada.
Nesse sentido, na esquina da Avenida Sete de Setembro com a Rua Cândido Xavier, propõe-se uma arquitetura de dois corpos que respiram: um mais próximo da esquina, articulado às dimensões urbanas das ruas que margeiam o lote; outro, mais afastado e privado, que se volta para a paisagem do miolo de quadra. Os núcleos de circulação são imersos nas massas construídas, de modo a livrar completamente o perímetro avarandado para as trocas humanas das relações com a cidade.
O movimento de respirar implica em trazer para dentro aquilo que está fora — e devolver como algo que se transformou. Não importa o dentro, tampouco o fora; mas o movimento de troca que nos mantém vivos. Nos apartamentos, a fluidez das lajes avarandadas empilhadas borra os limites do dentro e do fora, restando, para além dos limites do público e do privado, apenas o movimento: o de habitar a cidade.